sábado, 2 de junio de 2018

MIGUEL TORGA (Portugal, 1907-1995)
A um negrilho


Na terra onde nasci há um só poeta.
Os meus versos são folhas dos seus ramos.
Quando chego de longe e conversamos,
É ele que me revela o mundo visitado.
Desce a noite do céu, ergue-se a madrugada,
E a luz do sol aceso ou apagado
É nos seus olhos que se vê pousada.

Esse poeta és tu, mestre da inquietação
Serena!
Tu, imortal avena
Que harmonizas o vento e adormeces o imenso
Redil de estrelas ao luar maninho.
Tu, gigante a sonhar, bosque suspenso
Onde os pássaros e o tempo fazem ninho!

Negrilho (Ulmus minor), árvore muito vulgar antigamente em Trás-os-Montes, tem vindo a desaparecer progressivamente, dizimado pela "Grafiose do Ulmeiro", restando alguns troncos que, apesar de secos, ainda têm valor ecológico, servindo de suporte de ninhos de cegonhas.
Foi uma destas árvores que inspirou Miguel Torga, no seu poema “A um negrilho”, o velho negrilho que existia no Largo do Eiró, em S. Martinho de Anta onde nasceu.

Desse negrilho resta, apenas, o tronco morto e, junto dele, a poesia que o imortalizou e o busto do poeta e escritor transmontano.


Fotos de Manuela D.L.Ramos 2010
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